Dra. Lana Fraga

Quando a dor de cabeça é preocupante? Saiba tudo neste artigo

Quando a dor de cabeça é preocupante?

A dor de cabeça é um sintoma comum que afeta milhões de pessoas diariamente. Apesar disso, é muitas vezes banalizada e ignorada, permanecendo anos sem o diagnóstico preciso e sem o tratamento adequado. Mas quando a dor de cabeça é preocupante? Identificar os sinais que indicam a necessidade de ajuda médica é essencial para evitar complicações e tratar a causa de forma eficaz. Neste artigo, vamos explorar os principais tipos de dor de cabeça, suas características, e os sinais de alerta que indicam a necessidade de uma consulta com um especialista.

Tipos de dor de cabeça e suas características

Para saber quando a dor de cabeça é preocupante, é importante conhecer os tipos e características desse sintoma. A dor de cabeça pode estar associada a diversas condições neurológicas, sendo a mais comum a enxaqueca.

Dor de cabeça do tipo tensional

A dor de cabeça tensional é descrita como uma dor em aperto ou pressão ao redor da cabeça, sem náuseas ou sensibilidade à luz ou som. Costuma ter a intensidade leve a moderada, e, apesar do nome, nem sempre está correlacionada a momentos de estresse. Pode durar de poucos minutos a mais de 1 dia, e se ocorre com frequência (> 3x mês), precisa ter a avaliação de um neurologista. 

Enxaqueca

A enxaqueca é uma doença crônica e hereditária, que cursa com diversos “tipos” de dor de cabeça. A pessoa com enxaqueca apresenta, além das crises de cefaleia, outros sintomas que comprometem a qualidade do sono, memória, humor, além de sintomas gastrointestinais e urinárias.

A crise típica da enxaqueca é a dor intensa e pulsátil, na maioria das vezes somente de um lado da cabeça, com náuseas, às vezes vômitos, sensibilidade à luz ou som, em alguns casos precedida por alterações sensoriais neurológicas (auras).

A crise típica costuma durar 3 a 7 dias, com grande impacto na qualidade de vida: é uma dor de cabeça mais severa e incapacitante, muitas vezes acompanhada por sintomas adicionais que dificultam as atividades diárias. Durante a crise intensa, é preciso buscar repouso em local sem estímulos, para que o cérebro consiga reduzir a hiperexcitabilidade neuronal.

Embora a causa exata seja desconhecida, sabe-se que está relacionada à hiperexcitabilidade neuronal, associada ao aumento de receptores de dopamina e herança genética.

Cefaleia em salvas

A cefaleia em salvas é um tipo raro de dor de cabeça que causa dores muito intensas, geralmente concentradas em um dos lados da cabeça, ao redor dos olhos, associada a sintomas autonómicos: lacrimejamento, coriza, congestão nasal, e até rubor na face ou olho do lado acometido. As crises ocorrem em “salvas” ou ciclos, com duração de 15 minutos a 3 horas, com múltiplos episódios diários ao longo de semanas ou meses, seguidos por longos períodos de remissão. Pessoas com cefaleia em salvas podem ficar inquietas durante a crise, ao contrário de outros tipos, em que é comum buscar repouso.

O ciclo circadiano pode ter um papel importante, já que as crises ocorrem frequentemente em horários regulares. Tabagismo e consumo de álcool são gatilhos comuns, especialmente durante os ciclos ativos. A causa exata é desconhecida, mas se sabe que a crise se inicia no hipotálamo.

Cefaleia sinusal

A cefaleia sinusal é causada por inflamação ou infecção dos seios nasais (sinusite) e geralmente é confundida com dores tensionais ou enxaqueca. Só ocorre durante infecções respiratórias e alergias.

A dor se apresenta como uma pressão ao redor das sobrancelhas, bochechas e nariz, que piora com movimentos repentinos da cabeça e ao inclinar-se para frente pelo deslocamento da secreção. Precisa estar acompanhada de sintomas de sinusite, como febre, congestão nasal, perda de olfato e secreção nasal espessa, por exemplo.

Cefaleia rebound (dor de cabeça por uso excessivo de medicamentos)

A cefaleia rebound é um tipo de dor de cabeça que ocorre devido ao uso excessivo de analgésicos. Pessoas que tomam medicamentos com frequência para tratar dores de cabeça irão apresentar essa dor em algum momento, transformando a cefaleia crônica em uma dor constante e diária. É uma cefaleia que costuma ocorrer logo ao acordar durando o dia todo, pode variar de intensidade ao longo do dia, tem alívio com uso de medicação analgésica, mas passado seu efeito ela retorna ainda mais intensa.

Os principais responsáveis pelo desenvolvimento da cefaleia por uso excessivo de medicamentos são os analgesicos comuns (dipirona, paracetamol), anti-inflamatórios (naproxeno, ibuprofeno, diclofenaco, nimesulida, cetorolaco), triptanos (naratriptano, sumatriptano, zolmitriptano), e alimentos ingeridos com frequência que contêm substâncias analgésicas como cafeína, teobromina (cacau, guaraná e mate), entre outros estimulantes.

Tipo de dor de cabeçaCaracterísticasDuraçãoSintomas associados
TensionalPressão ao redor da cabeça, sem náuseas30 min a diasTensão muscular, estresse
Crise típica de EnxaquecaDor latejante em um lado, com náuseas e sensibilidade4 a 72 horasAura, fotofobia, fonofobia
Cefaleia em salvasDor aguda ao redor do olho, lacrimejamento15 min a 3 horasOlho vermelho, congestão nasal
Cefaleia sinusalDor ao redor do nariz e bochechasDuração do quadro infecciosoCongestão nasal, secreção espessa
Cefaleia reboundDor diáriaVariaUso frequente de analgésicos

Quando a dor de cabeça é preocupante?

Embora as dores de cabeça sejam comuns, que precisam de tratamento, certos sinais indicam a necessidade de avaliação médica de urgência. Veja abaixo as situações em que uma dor de cabeça precisa ter sua avaliação rapidamente:

Dor de cabeça súbita e intensa

Uma dor de cabeça que surge repentinamente com intensidade extrema é motivo de preocupação. Essa dor é conhecida como “cefaleia em trovoada” e pode indicar condições graves, como hemorragia cerebral.

  • Sintoma principal: dor súbita e muito intensa, semelhante a um golpe.
  • O que fazer: procure atendimento médico de emergência imediatamente.

Dor de cabeça que piora com o tempo

Uma dor de cabeça persistente, que se torna mais intensa ou frequente ao longo dos dias ou semanas pode sinalizar problemas graves, como cronificação da enxaqueca, tumores cerebrais ou infecções.

  • Sintoma principal: dor que se agrava ao longo do tempo.
  • O que fazer: agendar uma consulta com um neurologista para uma avaliação detalhada.

Dor de cabeça após atividades específicas

Dores de cabeça após esforço físico (exercício, atividade sexual, carregar peso, subir escadas) ou situações específicas (tomar sorvete, tosse ou espirros, ou ao mudar de posição – levantar ou deitar), são cefaleias que precisam de avaliação do neurologista. Elas podem acontecer em pessoas com enxaqueca crônica ou surgir em casos mais específicos como aneurismas ou hipertensão intracraniana.

Dor de cabeça acompanhada por outros sintomas neurológicos

Se a dor de cabeça for acompanhada por sintomas como visão turva, fraqueza, confusão mental, ou dificuldade para falar que aparecem de forma súbita, pode indicar um acidente vascular cerebral (AVC) ou outra condição neurológica grave.

  • Sintoma principal: presença de sintomas neurológicos de aparecimento súbito junto à dor.
  • O que fazer: procure ajuda médica de emergência.

Dor de cabeça após uma lesão na cabeça

Dores de cabeça após um trauma ou lesão na cabeça, especialmente se persistirem, podem indicar uma concussão ou até uma hemorragia interna.

  • Sintoma principal: dor contínua ou crescente após um trauma.
  • O que fazer: procure atendimento médico para exames de imagem e avaliação.

Dor de cabeça com febre, rigidez na nuca ou náuseas intensas

Esses sintomas podem indicar uma infecção grave, como meningite, por exemplo. A rigidez na nuca e a febre alta junto com a dor de cabeça são sinais comuns desta condição e exigem tratamento rápido.

  • Sintoma principal: febre alta, rigidez na nuca e náuseas.
  • O que fazer: buscar atendimento médico de emergência.

Dor de cabeça em idosos (acima de 50 anos) com início recente

Uma dor de cabeça nova em pessoas com mais de 50 anos, especialmente se for acompanhada de outros sintomas, deve ser avaliada. Essa condição pode estar relacionada a arterite temporal, uma inflamação nas artérias da cabeça que requer tratamento urgente.

  • Sintoma principal: dor de cabeça nova após os 50 anos.
  • O que fazer: consultar um especialista o mais breve possível.

Quando consultar um neurologista?

Se a dor de cabeça aparece de forma recorrente (todo mês por exemplo), ou não melhora mais com as medidas que antes funcionavam (precisa de doses cada vez maiores e mais frequentes de analgésicos), piora com o tempo ou é acompanhada por sintomas preocupantes, o neurologista deve ser consultado. Esse profissional realizará exames clínicos e, se necessário, exames de imagem para identificar a causa da dor.

Exames comuns para avaliação de dor de cabeça

  • Ressonância magnética: utilizada para verificar lesões ou anomalias no cérebro.
  • Tomografia computadorizada: útil para identificar sangramentos e outras lesões.
  • Eletroencefalograma (EEG): avalia a atividade elétrica do cérebro, importante em casos de crises convulsivas ou desmaios associados.

Conclusão

Embora a sociedade trate as dores de cabeça frequentes como algo “comum”, sabemos que não é normal sentir dores de forma recorrente. É preciso atentar se a dor ocorre com frequência (por exemplo todo mês), ou de forma esporádica sempre após alguma atividade específica – exercício, ingestão de alimentos específicos, atividade sexual – que precisa de uso de medicação analgésica já é um sinal que precisa ser avaliada. Por fim, ficar atento também aos sinais de alerta que exigem atendimento imediato e procurar ajuda médica no momento certo é fundamental para prevenir complicações. Precisa de uma consulta? Faça o agendamento clicando aqui.