Dra. Lana Fraga

Insônia persistente: quando procurar ajuda?

Insônia persistente: quando procurar ajuda?

A insônia persistente é um problema que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo e pode ter um impacto significativo na qualidade de vida. Se você tem dificuldade em dormir regularmente, ou se o seu sono não é reparador, pode estar lidando com um quadro de insônia crônica. Embora noites mal dormidas sejam comuns em períodos de estresse ou mudança, quando a insônia se torna constante, ela pode ser um sinal de que algo mais sério está acontecendo. Em alguns casos, essa condição está relacionada a distúrbios neurológicos, como enxaqueca, ou a outras condições de saúde que exigem atenção profissional.

O que pode ser insônia constante?

A insônia constante é um distúrbio do sono que vai além das dificuldades ocasionais de dormir. Ela é caracterizada por uma dificuldade persistente em adormecer, manter o sono ou acordar muito cedo e não conseguir voltar a dormir, e essa condição ocorre por pelo menos três noites por semana durante pelo menos três meses. Quando a insônia se torna constante, pode afetar significativamente a qualidade de vida, impactando o humor, a concentração e o desempenho nas atividades diárias, por exemplo.

Tipos de insônia

A insônia pode se manifestar de diferentes formas, sendo as mais comuns:

  • Dificuldade em adormecer: a pessoa demora para iniciar o sono, mesmo estando fisicamente cansada. Esse tipo de insônia pode estar relacionado a fatores como ansiedade ou estresse, ou a hábitos inadequados, como o uso excessivo de eletrônicos antes de dormir.
  • Acordar durante a noite: o indivíduo adormece inicialmente, mas desperta repetidamente durante a noite e não consegue voltar a dormir, ficando inquieto e frustrado. Esse padrão pode estar associado a distúrbios médicos, como, por exemplo, apneia do sono, refluxo gastroesofágico, ou até condições neurológicas, como a enxaqueca.
  • Acordar muito cedo: a pessoa acorda muito antes de seu horário habitual e não consegue voltar a dormir. Isso pode ser um sintoma de doenças como enxaqueca, depressão, ou distúrbios no ritmo circadiano.

Possíveis causas da insônia constante

A insônia persistente pode ter sua causa por diversos fatores, tanto físicos quanto psicológicos. Algumas das causas mais comuns incluem:

Distúrbios psicológicos

A ansiedade, o estresse e a depressão são causas bem documentadas de insônia. Quando estamos ansiosos ou deprimidos, o corpo fica em um estado de alerta constante, o que dificulta o relaxamento necessário para iniciar o sono. Muitas pessoas com insônia constante relatam que suas mentes ficam “agitadas”, tornando impossível relaxar.

Problemas neurológicos

Distúrbios neurológicos, como a enxaqueca, podem causar interrupções no sono, levar ao sono não reparador, além da cefaleia intensa, que costuma piorar à noite. Outro exemplo é o distúrbio do sono REM, no qual o sono é interrompido durante a fase do sono profundo, afetando a qualidade do descanso.

Apneia do sono

A apneia do sono é uma condição em que a respiração é interrompida várias vezes durante o sono, o que causa micro-despertares e impede um descanso completo. Pessoas com apneia muitas vezes não se dão conta de que acordam durante a noite, mas relatam cansaço extremo durante o dia, o que pode ser confundido com insônia.

Uso de substâncias

O consumo excessivo de cafeína, álcool ou certos medicamentos e substâncias estimulantes interferem na qualidade do sono. A cafeína, por exemplo, é um estimulante que dificulta o sono, enquanto o álcool interrompe os ciclos naturais de sono.

Distúrbios hormonais

Condições como disfunções da tireoide podem afetar o sono. A flutuação hormonal durante a menopausa pode causar ondas de calor e suores noturnos, dificultando o descanso – sintoma mais comum nas mulheres com enxaqueca.

Fatores ambientais

Barulho excessivo, luz forte ou um ambiente desconfortável para dormir também são causas comuns de insônia. A exposição à luz azul de dispositivos eletrônicos, especialmente antes de dormir, afeta a produção de melatonina, o hormônio responsável por regular o sono.

Outras condições médicas

Doenças cardíacas, doenças respiratórias, diabetes e doenças gastrointestinais também podem contribuir para a insônia. Muitas dessas condições causam desconforto físico ou dor, dificultando o relaxamento e o sono.

A insônia constante pode ser um sintoma de algo mais sério?

Sim, a insônia persistente pode ser um sintoma de problemas de saúde mais sérios, como doenças neurológicas, psiquiátricas ou mesmo cardíacas. Quando a insônia é acompanhada de outros sintomas, como dor intensa, dificuldade respiratória, sensação de cansaço extremo ou mudanças no apetite e no peso, é fundamental procurar um médico com certa urgência. Esses sinais indicam que a insônia precisa ser tratada adequadamente.

Quando a insônia é preocupante?

Embora todos nós experimentemos noites mal dormidas de vez em quando, a insônia se torna preocupante quando se torna persistente e interfere significativamente na qualidade de vida. Quando a dificuldade para dormir ultrapassa o limite do desconforto ocasional e começa a afetar a saúde física e mental de maneira mais grave, é hora de prestar atenção nos sinais e procurar ajuda.

Quando a insônia dura mais de três meses

A insônia persistente, que ocorre mais de três vezes por semana durante pelo menos três meses, é um sinal de que algo mais sério pode estar acontecendo. Há um impacto negativo em várias áreas da vida, como o desempenho no trabalho, a saúde emocional e os relacionamentos pessoais, por exemplo.

Se a insônia se prolongar por esse período, é essencial procurar ajuda médica para investigar as causas e evitar complicações.

Quando a insônia afeta a qualidade de vida

A insônia pode começar a afetar seriamente a qualidade de vida. Se você se sentir constantemente cansado durante o dia, tiver dificuldades de concentração, memória prejudicada, irritabilidade excessiva ou problemas de humor, é hora de se preocupar e procurar ajuda. Esses efeitos são sinais de que a falta de sono está prejudicando a função cognitiva e emocional do corpo.

Além disso, o cansaço constante pode afetar a capacidade de tomar decisões, o que pode ser perigoso em várias situações cotidianas, como dirigir.

Quando a insônia está associada a sintomas físicos ou psicológicos

Se a insônia for acompanhada de outros sintomas, ela pode ser um reflexo de uma condição médica subjacente. Esses sintomas incluem:

  • Dor intensa ou persistente (como nas crises de cefaleia da enxaqueca, que muitas vezes pioram à noite e dificultam o sono);
  • Dificuldade respiratória (como na apneia do sono, que interrompe a respiração durante o sono);
  • Sintomas de depressão ou ansiedade, como sentimentos de tristeza profunda, perda de interesse nas atividades diárias, ou uma sensação constante de nervosismo e tensão;
  • Alterações no apetite ou peso, que podem ser sinais de problemas hormonais ou transtornos alimentares;
  • Acordar suado ou com ondas de calor, especialmente em mulheres que passam pela menopausa, ou em condições de desequilíbrio hormonal.

Quando a insônia interfere no trabalho ou na vida social

Se a insônia persistente prejudicar sua capacidade de trabalhar, estudar ou se socializar, isso pode levar a isolamento social e a uma diminuição no desempenho profissional. Isso pode resultar em baixa produtividade, erros frequentes e aumento do estresse. Além disso, a falta de sono afeta a saúde mental, podendo levar a quadros de depressão ou ansiedade, que também requerem tratamento especializado.

Quando a insônia está relacionada a doenças crônicas ou tratamento inadequado

Em alguns casos, a insônia está associada a doenças crônicas, como doenças cardíacas, diabetes e hipertensão, que podem causar desconforto físico, dificuldade para relaxar ou dor durante a noite. Quando esses problemas de saúde não são controlados adequadamente, podem agravar a insônia.

Além disso, como já mencionado, o uso inadequado de medicamentos ou o abuso de substâncias, como álcool ou cafeína, pode contribuir para o agravamento da insônia. Se a insônia persistir, mesmo após mudanças de hábitos, é importante revisar as medicações com um médico.

Quando a insônia resulta em complicações de saúde mental e física

A insônia crônica pode levar a complicações graves se não for tratada adequadamente. A falta de sono está associada a um risco maior de desenvolver doenças como:

  • Doenças cardiovasculares: a privação de sono pode aumentar o risco de hipertensão e problemas cardíacos, uma vez que o corpo não tem tempo suficiente para se recuperar adequadamente durante o sono.
  • Diabetes tipo 2: a falta de sono afeta os níveis de glicose e pode prejudicar a resposta do corpo à insulina.
  • Problemas neurológicos: como já mencionado, distúrbios neurológicos, como a enxaqueca, leva a insônia e as crises de cefaleia podem se agravar com a falta de descanso. Além disso, a ausência de um sono reparador é fator de risco para desenvolvimento de Alzheimer e outras demências. 
  • Depressão e ansiedade: a insônia crônica está intimamente ligada ao desenvolvimento de distúrbios psiquiátricos, como a depressão e a ansiedade, e pode dificultar o tratamento desses quadros.

Quando a insônia é um sinal de distúrbios do sono

Se você tem dificuldades para dormir associadas a roncos intensos, respiração ofegante ou pausas na respiração enquanto dorme, isso pode ser um sinal de apneia do sono, um distúrbio respiratório que afeta a qualidade do sono e pode levar a complicações cardíacas e neurológicas. A apneia do sono pode ter seu diagnóstico por um médico especialista e, quando tratada corretamente, pode melhorar muito a qualidade do sono.

O que fazer quando se tem insônia crônica?

A insônia crônica é uma condição que vai além de noites ocasionais mal dormidas. Ela afeta a qualidade do sono e, consequentemente, da vida de forma persistente. Lidar com a insônia crônica requer uma abordagem abrangente, que inclui mudanças nos hábitos de vida, estratégias de higiene do sono e tratamento médico especializado.

Melhore a higiene do sono

A higiene do sono refere-se a um conjunto de práticas que ajudam a criar um ambiente propício para o descanso. Algumas ações incluem:

  • Estabeleça uma rotina regular: vá para a cama e levante no mesmo horário todos os dias, inclusive nos finais de semana, para regular o ritmo circadiano.
  • Evite eletrônicos antes de dormir: a luz azul de telas de celulares, computadores e televisores interfere na produção de melatonina, dificultando o sono. Ideal é interromper o uso 2 horas antes de ir para a cama – nem leve o celular para o quarto!
  • Crie um ambiente confortável: mantenha o quarto escuro, silencioso e em uma temperatura agradável.
  • Evite estimulantes à noite: evitar a cafeína e outros estimulantes (chocolate, entre outros), nicotina e álcool, principalmente nas horas que antecedem o sono.

Pratique técnicas de relaxamento

O estresse e a ansiedade são grandes inimigos do sono. Incorporar práticas de relaxamento ajudam a acalmar a mente antes de dormir. Algumas técnicas eficazes incluem:

  • Meditação: praticar meditação mindfulness reduz os níveis de estresse e promove um estado de relaxamento.
  • Exercícios de respiração: técnicas de respiração profunda e ritmada ajudam a desacelerar o ritmo cardíaco e a induzir o sono.
  • Yoga ou alongamentos leves: atividades relaxantes antes de dormir podem aliviar a tensão muscular e preparar o corpo para descansar.

Estabeleça limites para cochilos

Embora cochilar durante o dia possa ser tentador quando você está cansado, isso pode interferir no sono noturno. Se você precisar dormir à tarde, limite o cochilo a 20-30 minutos e evite fazê-lo após às 15h.

Mantenha uma rotina de exercícios

Praticar atividades físicas regularmente melhora a qualidade do sono ao reduzir o estresse e a ansiedade. No entanto, evite exercícios intensos nas quatro horas antes de dormir, pois eles podem causar um aumento na adrenalina e dificultar o relaxamento.

Experimente suplementos e chás naturais

Algumas pessoas se beneficiam do uso de suplementos ou remédios naturais para melhorar o sono. Opções populares incluem:

  • Melatonina: um suplemento que regula o ciclo do sono, especialmente útil para quem sofre de insônia relacionada a alterações no ritmo circadiano.
  • Chás calmantes: chás de camomila, valeriana, mulungu ou lavanda ajudam a relaxar o corpo e induzir o sono.

Identifique e trate causas subjacentes

A insônia crônica pode ser causada ou agravada por outros problemas de saúde. É essencial identificar e tratar esses fatores. Entre as condições mais comuns estão:

  • Enxaqueca: a doença causada por hiperexcitabilidade neuronal caracteristicamente cursa com insônia e distúrbios do sono. O tratamento de controle da doença não só melhora os episódios de dor de cabeça, como regula o sono e devolve o sono reparador.
  • Transtornos psiquiátricos: depressão e ansiedade são frequentemente associados à insônia crônica. Sempre merecem avaliação neurológica para entender a causa subjacente – boa parte das vezes é a própria doença enxaqueca.
  • Problemas hormonais: condições como hipotireoidismo ou menopausa podem interferir no sono e precisam ter o tratamento correto.

Qual médico consultar para insônia?

Quando a insônia persiste e afeta a qualidade de vida, é fundamental buscar a ajuda de um especialista. O neurologista desempenha um papel essencial, para o diagnóstico da causa e definição do melhor tratamento.

Consulte um neurologista se você apresentar os seguintes sinais associados à insônia:

  • Dificuldade crônica para dormir: quando os problemas para adormecer ou manter o sono persistem por mais de três meses.
  • Sintomas diurnos: irritabilidade, dificuldade de concentração, lapsos de memória ou dores de cabeça frequentes relacionadas à privação de sono.
  • Suspeita de outras condições neurológicas: se você também apresenta sintomas como, por exemplo, formigamento, tremores, crises de enxaqueca ou episódios de confusão mental.
  • Falta de resultados com outras abordagens: caso mudanças no estilo de vida e outras terapias não tenham surtido efeito.

Por fim, se você sofre de insônia persistente, procurar um neurologista é um passo importante para identificar causas neurológicas subjacentes e receber um tratamento especializado. O sono não é apenas um descanso físico, ele é crucial para o equilíbrio mental bem como neurológico. Agende uma consulta e priorize sua saúde.

Dra. Lana Fraga – Atendimento especializado – Especialista em enxaqueca –  Neurologista Moema, SP